23.4.12

Enfim, o amor aconteceu.




Anos de procura exaustiva, mas nada satisfazia as minhas exigências. High standards, dizem uns; Pancada, digo eu. E com isto, muitas coisas se vão perdendo pelo caminho; oportunidades que nem em saldo são viáveis, consentimentos infelizes e uma frustração entristecedora que é completamente escusada. E tudo porque não havia uma porcaria de uma loja baratucha que me quisesse vender um yo-yo com luz.
Com certeza que, se eu fosse excêntrica e a minha carteira estivesse bem abastecida, eu teria ido, em pessoa, ao país do arroz encomendar o meu, tão querido e desejado, yo-yo. Mas como eu sou um daqueles vulgares utilitários dos transportes públicos desta nação, não tenho direito a entreter a minha alma infantil com brinquedos úteis e nostálgicos. Dizem eles!
Mas eis que um anjinho, muito provavelmente, chamado Castiel (Cas para os amigos) achou, por bem, fazer com que o amor me encontrasse. E obrigada, lojinha da vaca, por existires e me proporcionares estes pequenos prazeres (nada baratos, há que reclamar).


Nisto, quando chego a casa, depois de uma bela tarde de Starbucks e Augustinha com a minha Batata favorita, emerge o derradeiro e tão esperado momento. 
A caixa, com uma decoração digna de uma embalagem de sabonete à antiga, chama por mim: 

- Alice..Alice..
Eu olho para ela, ela olha para mim e eu penso:
vou-te descascar
E descasquei-a!




No entanto, para meu GRANDE DESAGRADO, o yo-yo não deu à luz, tal como estava escrito na caixa. Há uma loja em lisboa que vai receber uma reclamação muito brevemente, ai há, há.

Mas não há nada que substitua aquele sentimento quentinho que nos faz vibrar a retina quando algo que já quase que desistimos de procurar nos aparece à frente, sem a forçarmos no nosso mundo. E é assim, meus caros, que se faz o amor!


e NISTO...

 ...FUI!

21.4.12

Mas para que serve, afinal, o micro-ondas?



 
Depois de meses de empacotamento e dias de desempacotamento, cá estamos, na casa nova, um desconhecido paraíso. Um suposto começar de novo, embora quase tudo continue igual.
É estranha a sensação de querer tanto uma coisa, durante tanto tempo, que quando a temos quase que nos esquecemos de quanto suor dedicámos àquelas paredes.
Enquanto numa casa pequenina, quando um centavo cai no chão de um quatro todos os membros da família gritam "É meu!", agora o ritual é mais ou menos assim:

-ALICE!
-DIZ, MÃE!
momentos silenciosos de expectativa, longos o suficiente para se tornarem irritantes.
-ALICE!
-QUE FOI, MÃE?
-OH ALICE!
-SIM, MÃE! DIZ.
-ALICE JULIETA FIGUEIREDO!
BRRRRR. Ira sobe-me pelas veias, atiro o livro para o chão provocando um estrondo que poderia matar a população de, pelo menos, três terços da China. Mas não mata. Em vez disso, apenas abafa o meu grunhido frustrado (digno de um gorila). Caminho, pesadamente, com uma expressão vingativa no rosto. Desço as escadas, assegurando-me que cada passo meu soa por toda a casa e descola os azulejos do jardim zoológico do vizinho da frente e finalmente chego à cozinha. Respiro pouco fundo e coloco, então, uma máscara amigável e finjo uma voz dócil:
-O que queres mãe?
-Diz-me as horas.
A sua voz penetra nos meus ouvidos como mil agulhas que picam um rabiosque. Os números luminosos do micro-ondas começam a gritar aos meus olhos ferindo a minha patela que por milissegundos se liberta do domínio joelhíno. Há um pânico no interior do meu cérebro, com direito a fogo de artificio neuronal e tudo, que faz com que toda a angústia se transforme num murmurinho articulado que soa como:
-nove e trinta e seis.




E como se me chamasse Katniss, corro de ali para fora, pondo a minha sobrevivência à frente de tudo o que possa vir.



Porque há pessoas que ainda não perceberam que um micro-ondas é um mundo que serve para muitas outras coisas que não descongelar pão.



e NISTO...
 ...FUI!